Dizem que o amor é cego — e, de certo modo, é mesmo. Quando nos apaixonamos, algo muda na forma como percebemos o mundo. As imperfeições do outro parecem encantadoras, as diferenças se tornam detalhes e até o que antes nos incomodaria ganha um toque de doçura. É como se o coração colocasse um filtro sobre os olhos, transformando a realidade em uma versão mais bonita e idealizada.
Essa cegueira emocional não é um defeito, mas um instinto antigo. O amor, biologicamente falando, ativa regiões do cérebro que reduzem o senso crítico e aumentam a sensação de recompensa. É o mesmo mecanismo que nos faz sentir euforia e segurança — uma mistura que, se não for equilibrada, pode nos fazer ignorar sinais que mais tarde se tornam dor.
Muitas vezes, o que chamamos de “amor cego” é, na verdade, uma projeção. Vemos no outro o que gostaríamos que ele fosse, e não o que realmente é. Confundimos desejo com destino, atenção com afeto, presença com compromisso. E é aí que começam os tropeços: insistimos em relações que já mostraram seus limites, acreditamos em promessas vazias, ignoramos a intuição que sussurra o que o coração se recusa a ouvir.
Mas o contrário do amor cego não é o amor frio. Amar com consciência é continuar sentindo intensamente, mas sem perder o olhar atento. É perceber os gestos, as atitudes, os silêncios. É entender que amor verdadeiro não pede cegueira — pede clareza. Quem ama de verdade não fecha os olhos para os defeitos do outro, apenas aprende a enxergar além deles.
Quando o amor amadurece, ele troca a cegueira pela visão nítida. E ver com nitidez não tira a beleza do sentimento — ao contrário, a torna mais real, mais estável e mais humana. Porque o amor que enxerga é o que continua mesmo depois que o encanto passa, quando sobra o que é verdadeiro.
Às vezes, abrir os olhos é o gesto mais amoroso que podemos ter — com o outro e com nós mesmos.
Gostou da reflexão que esse conteúdo trouxe? Compartilhe em seus grupos de amigos e redes sociais. Pode ser que alguém esteja precisando ouvir isso hoje.